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CAMPO & CIDADE

O mar que nos cerca - Onévio Zabot

Eis que, subitamente, em 2015, após uma erupção vulcânica no arquipélago de Tonga (ilhas amigáveis), oceano Pacífico, na Polinésia, surge mais uma ilha marinha - a mais recente de três nos últimos 150 anos. Mas com uma monumental diferença em relação às demais, haja vista o monitoramento de cientistas da NASA e da Associação de Estudos Marinhos de Massachusettts. O pesquisador Dan Slayback, por satélite em terra, comanda a missão.

A ilha resiste à erosão do mar, impondo-se altaneira sobre as ondas revoltas. O que tem intrigado os cientistas, no entanto, é a presença de pedras do tamanho de ervilhas, o que dificulta a locomoção sem proteção nos pés. Há também um trecho com lodo argiloso. A curiosidade: aves de ilhas próximas já se estabeleceram ilha, especialmente corujas e trinta-reis-das-rocas. Frágeis vegetais fixaram-se também em vários trechos. Oriundos de ilhas próximas, embora a hostilidade do ambiente, resistem; disseminam-se. Por enquanto denominaram a mais jovem ilha do planeta de HTHH, combinação de letras de nome de ilhas próximas: Hunga Tonga e Hunga Há'apai.

Ressalte-se: a formação do relevo terrestre e do mar é algo que desafia o homem ao longo dos séculos. Mais recentemente os estudos geológicos experimentaram fortes avanços em razão de novas tecnologias disponibilizadas; detectam não apenas aspectos quantitativos, mas qualitativos quanto à formação e transformação, tanto da crosta terrestres quando das camadas mais profundas. E também do ambiente marinho, no que pese guardar mistérios ainda não acessíveis à curiosidade humana.

No que tange ao ambiente marinho, Rachel Carson (1907-1964), precursora do movimento ecológico mundial, nas obras: O Mar Que nos Cerca e Beira-Mar, descreve numa linguagem singela aspectos da fauna, flora e geológicos. Em "O Mar Que Nos Cerca", atém-se a detalhes sobre o nascimento e desaparecimento de ilhas no vasto ambiente marinho que ocupa dois terços da superfície da terra. E também sobre os ciclos dos seres vivos presentes. Não poupa os colonizadores; taxa-os de usurpadores da vida selvagem. Levaram destruição a praticamente todos os ambientes insulares do planeta onde aportaram. Ou por outra: meteram os pés pelas mãos.

Textualmente descreve: "Infelizmente, o ser humano escreveu nas ilhas oceânicas um de seus registros mais sinistros como destruidor. Raramente ele se instalou em uma ilha na qual não tenha causado mudanças desastrosas. Ele destruiu ambientes ao cortar, desmatar e queimar; trouxe consigo como sócio casual, o nefasto rato; e quase invariavelmente tem liberado nas ilhas toda uma Arca de Noé de cabras, porcos, gado bovino, cães, gatos e outros animais e plantas não nativos. A negra noite da extinção abateu-se então sobre as espécies insulares, uma após a outra".

Ernest Mayr, navegador, cita o enigmático caso da ilha de Lord Howe, leste da Austrália. Ali, ratos evadidos de embarcações, nadaram e ocuparam a ilha, dizimando a população de aves nativas. Descreve o quadro aterrador após o ataque: "O paraíso de aves tronou-se um deserto, e quietude da morte reina onde antes era uma melodia". Charles Darwin já havia constatado que as aves insulares eram de uma mansidão tocante; pousavam nos ombros dos invasores. Não se afastavam; daí tornarem-se presas fáceis. Ignoravam a agressividade do colonizador.

Este cenário sombrio é amplamente descrito na obra. Rachel Carson cita o lamento de W. H. Hudson quanto à pampa argentina: "O belo se foi e jamais retornará".

Nem tudo, no entanto, está perdido. Rachel descreve inúmeras espécies da fauna marinha praticamente desconhecidas. Habitam as profundezas dos mares. Profundidades abissais. E lá se protegem de predadores e da fúria do homem.

Descreve também a fúria da natureza, aparentemente impiedosa. Os furações e maremotos que se formam no mar e que avançam sobre os continentes, deixam um rastro de destruição por onde cruzam. Além de danos às áreas povoadas, afetam a vida selvagem. Reporta-se à ilha de Bengala, 1737. Ali, durante uma tempestade vinte mil barcos foram destruídos e trezentas mil pessoas se afogaram.

Aborda com maestria sobre a cordilheira atlântica, imensa cadeia de montanhas marinhas submersa e dispersa neste vasto oceano, em cujo entorno: diferente altitudes, latitudes, longitudes e ambientes, prospera uma diversificada e rica vida selvagem. Se comparada, de maiores proporções do que a Cordilheira dos Andes. E mais alta do que o pico do Himalaia.  

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